quinta-feira, 5 de março de 2015

texto: reflexão sobre meus projetos de arte nas ruas

Estando aqui em Lisboa, cidade em que a arte urbana é muito presente, e ao mesmo tempo, muito institucionalizada, imerso na residência HS13rc, e realizando o projeto de intervenção urbana APOSTO, sinto a necessidade de fazer uma pequena reflexão.

Migração Monarca - 2014

O que fiz (e estou ainda fazendo) nestas duas vezes em que realizei projetos de arte nas ruas de Lisboa trata-se mais de intervenção artística no espaço urbano do que o tradicionalmente entendido como arte urbana. 

Migração Monarca - 2014

No meu caso os projetos são realizados sempre com peças de uma escala discreta; não são paredes inteiras, muros de 5 metros de extensão, ou esculturas monumentais. São peças pequenas, infiltradas. Não são obras que cobrem e ocupam de forma incisiva um espaço ou uma superfície. 

Nos dois projetos (Migração Monarca, de 2014, e Aposto, de 2015) houve o desejo de orientar meus trabalhos a partir de manifestações culturais tipicamente lisboetas, e ao mesmo tempo integrar os próprios projetos a estes elementos culturais que os informam e os guiam. No primeiro caso, as ornamentações das festas dos santos populares, e no segundo, as fachadas azulejares.

Aposto - 2015

Eu vejo muitos casos de arte urbana que anulam o que havia antes deles. Se pretendem mais chamativos do que qualquer outra coisa que exista nas imediações. Não é por aí que eu gosto de ir. Eu gosto de tentar um diálogo com o que já existe. 

Meus dois projetos atuam como pequenas inserções, peças que invadem quase como um parasita e que se agregam ao hospedeiro, muito maior que ele. As peças aparecem mais pelo contraste que provocam, por perturbarem ou provocarem o que já está lá, do que se impondo de cima para baixo a um espaço.

Aposto - 2015

São peças que exigem uma aproximação, uma intimidade, para que possam agir. Ficam dormentes até que você as ative com seu olhar. Não gritam — sussurram. São vírus, e não elefantes. E vírus podem derrubar elefantes.

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