quarta-feira, 27 de maio de 2015

Armas de renda e azulejos portugueses são destaque da exposição ‘Rejunte’ (O GLOBO)


ARTES VISUAIS

Armas de renda e azulejos portugueses são
destaque da exposição ‘Rejunte’

Criações do artista Fábio Carvalho, peças foram combinadas na reconstrução de fachadas em Lisboa

POR FABIANO MOREIRA - TRANSCULTURA *
27/05/2015 6:00

Uma das imagens da exposição “Rejunte”, que abre hoje, às 19h, na Galeria Pretos Novos - Divulgação

RIO - Foi durante a sua residência artística em Lisboa, em fevereiro e março deste ano, que o artista carioca Fábio Carvalho visitou as tradicionais retrosarias portuguesas, espécies de armarinhos locais, para encontrar as rendas com as quais construiu pistolas e um fuzil AR-15, em uma espécie de patchwork em tamanho original. Feitas para enfeitar roupas femininas, as rendas passaram a dar vida a artefatos geralmente associados à virilidade bruta na série “Delicado desejo”, que dá continuidade à discussão sobre estereótipos de identidade de gênero presentes na obra do artista, como na série ‘Macho toys”, na qual brinquedos masculinos e bélicos ganhavam arranjos de plantas e flores.

As imagens de armas feitas em delicadas rendas ainda foram desdobradas em mais duas séries, “Aposto” e “Transposto”, nas quais o artista recriou os tradicionais azulejos portugueses com padronagens feitas a partir das armas de renda. Os azulejos de papel foram usados para reconstituir fachadas de azulejos deterioradas pela ação humana, em Lisboa. As três séries estarão em cartaz na exposição “Rejunte”, com curadoria de Marco Antônio Teobaldo, que tem abertura hoje, às 19h, na Galeria Pretos Novos (2516-7089), na Gamboa. Ela fica em cartaz até o dia 25 de julho, e pode ser visitada de terça a sexta, das 12h às 18h, e sábados, das 10h às 13h

— O público vai ser convidado a colar os azulejos na parede e terá responsabilidade na criação coletiva da composição final do trabalho, numa referência direta a Athos Bulcão, artista brasileiro modernista que deu aos painéis de azulejos um novo significado, por meio da multiplicação e rotação de elementos geométricos simples — explica o artista. — Em muitos dos seus painéis, Bulcão deixou por conta dos operários a decisão de como os azulejos deveriam ser aplicados, em muitos aspectos, abrindo mão da autoria da composição final, como, por exemplo, no painel da Praça da Apoteose, no Sambódromo.

Em “Aposto”, três novos padrões de azulejos, impressos a laser sobre papel, foram aplicados com cola de amido em fachadas de prédios lisboetas onde os originais haviam sido suprimidos por deterioração ou roubo, chamando a atenção para a preservação destas fachadas. O trabalho ganhou elogios de Francisco Queiroz, professor na Escola Superior Artística do Porto, que ressaltou o lado preservacionista do projeto na página de Facebook “SOS Azulejo”.

Além de chamar a atenção para o problema de roubos e perdas de azulejos nas fachadas de Lisboa, o artista também faz uma analogia com a banalização da violência e a falta de valor da vida. Durante 35 dias, mais de 300 azulejos de papel foram aplicados, em 45 pontos destas fachadas históricas. Na exposição, a série aparece em cinco registros fotográficos da ação nas ruas portuguesas. Carvalho ainda recolheu, em caçambas de lixo de Lisboa, azulejos e fragmentos deles para trazer ao Rio, recriando estas fachadas, com azulejos originais e de papel, na série “Transposto”

* Fabiano Moreira escreve na página Transcultura, publicada às sextas-feiras no Segundo Caderno

http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/armas-de-renda-azulejos-portugueses-sao-destaque-da-exposicao-rejunte-16269467

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